domingo, 10 de agosto de 2008

sábado, 9 de agosto de 2008

Encarnação do demônio (José Mojica Marins, 2008)

Eram oito horas da noite e eu estava preso no engarrafamento da Nilo. Sorte a minha que um curta-metragem de 11 minutos precedia o filme. Pisei fundo no acelerador, roubei a vaga de uma idosa no estacionamento e corri pra bilheteria.
- [esbaforido] Boa noite...
- Boa noite!
- Uma pra 'Encarnação do demônio' agora às 20h, faz favor.
- Como?
- UMA ENTRADA PRA 'ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO' ÀS VINTE HORAS, PELO AMOR DE DEUS!
- Treze reais.
- [entrego o dinheiro, pego o troco e o ingresso] Obrigado.
- [olhar de chacota]
Batiam as 20h10min e eu entregava o tíquete pro lanterninha sem estabelecer muito contato visual. Chegando à minúscula sala 8, tornava-me eu o quarto espectador da estréia do novo filme do Zé do Caixão em Porto Alegre. Um casal de emos macho e fêmea e mais um jovem senhor assistiam ao curta-metragem, que foi até engraçadinho e tudo. Começa o filme. Dez ou quinze minutos se passam e o senhor se retira discretamente do recinto. Passam-se outros dez ou quinze minutos e lá se vai o casal bicurioso porta afora.
E eu estou só, assistindo a encarnação do demônio abandonado numa sala escura e claustrofóbica. Não posso dizer que fiquei com medo, por causa do orgulho masculino, mas afirmo que não é a melhor sensação do mundo assistir sozinho a um filme maldito como esse, onde as pessoas inserem ratos vivos na vagina e mantém relações sexuais enquanto são observadas por cadáveres dependurados no teto e tomam um literal banho de sangue.
Não conheço muitos filmes brasileiros de terror (pra não dizer que nunca ouvi falar de um), mas 'Encarnação do demônio' não fica atrás de muita superprodução americana do gênero, incluindo as 425 versões de Jogos Mortais e O Albergue - os quais ele supera fácil. Estão ali o sadismo gratuito, a aura de filme B, os litros de groselha e os ocasionais pedaços amputados de corpos. As atuações são mais do que competentes - excetuando-se o velho e caquético Zé do Caixão, que mais parece estar recitando o alcorão numa reunião do AA do que representando - e o cuidado tanto com a fotografia como com a sonoplastia merece uma salva de palmas do Silvio Santos.
Para os fãs do terror tosco, é obrigatório. Pelo menos para os que conseguirem ficar até o final da exibição: pode dar medinho.